novembro 16, 2014

Ao Raiar do Dia


Nem bem raiou o dia
O boiadeiro desperto
Pega a sela e o chapéu
Seu cavalo está ali perto
Esperando por seu dono
Sua sela é o seu trono
Onde nada é incerto

A lua brigava com o sol
Pra ver quem permanecia
Naquele céu altaneiro
Enfeitando aquele dia
Daquele bonito sertão
Onde pulsa o coração
Com vigor e alegria

Galinhas cacarejavam
Os pintainhos piavam
Enquanto galos faceiros
No terreiro passeavam
Com o seu porte altaneiro
E o seu canto brejeiro
Que a todos encantavam

Os porcos refastelados
Dentro do seu chiqueiro
Aguardavam a lavagem
Com o seu azedo cheiro
Pra encher a sua pança
E ficarem na lambança
Por todo o dia inteiro

Vacas sendo ordenhadas
Doavam precioso leite
Branquinho qual u'a nuvem
Um delicioso deleite
No pescoço balançando
O sininho que vai tocando
E servindo de enfeite

A cabra sai pinotando
Para fugir da ordenha
Procura por seu filhote
Espera que ele venha
Para ser amamentado
No seu colo embalado
Atrás do feixe de lenha

O carro de boi rangendo
Pela estrada passando
Levantando um poeirão
No ar, vai se espalhando
Mandando uma notícia
Que não existe malícia
Para quem está amando

Este sinal sertanejo
Somente é decifrado
Por quem carrega no peito
A dor do amor rejeitado
Uma dor tão lancinante
Que destrói qualquer amante
Inda sorri do coitado

O dia vai escorrendo
Pela estrada e beirais
A terra pisoteada
Sob os pés dos animais
E quando a noite anuncia
Que está findando o dia
Se ouvem profundos ais

A bicharada recolhida
Para o repouso noturno
Os fifós derramam a luz
Co'um brilho tão soturno
A cabeça matutando
Devagar vai programando
O seu trabalho diurno

Os sonhos vão passeando
Pelas vielas desertas
Alguns vão adentrando
Pelas janelas abertas
Com um jeitinho maneiro
Se deitam no travesseiro
Das mentes inda despertas

Surge mais um novo dia
Tudo vai se repetindo
Boiadeiro vai levando
Pela estrada o boi mugindo
Padre Ciço espiando
O que está se passando
Na vida que vai seguindo...

E o sertão se consumindo!

*soninha*

Nenhum comentário: